26.7.11

Nosso canto tem a cara da gente. Cara de uma menina de cabelos pretos e de um cara de barba. Tinha nossas coisas espalhadas, nossos CDs, nossos livros, e almofadas. Almofadas que você usava pra brincar de me sufocar quando eu ficava insuportável de tanto falar. E tinha também esquecida em algum canto aquela nossa foto abraçadinhos, aquela outra de você mostrando a língua, e eu te amando ainda mais. E tinha todas suas roupas, em todos os cantos, suas camisetas que eu adorava cheirar quando você se ausentava, seus perfumes, tinha você pra todo canto... mas era preciso sua presença pra qualquer coisa acontecer. Tinha nossos lençóis bagunçados, onde a gente se encontrava, onde a gente contrariava a matemática e faz 1+1 continuar sendo 1. Onde a gente matava nossas fomes, onde o mundo lá fora perdia todo o sentido, onde eu saia pra você entrar. O chuveiro... tantas boas lembranças dali, de quando chegava primeiro e você estava no banho e eu ficava ali, te observando, te olhando falar coisas aleatórias, mordendo os lábios pra segurar a vontade de te explorar, de entrar na água contigo já molhada pelo teu desejo. Tantas noites debaixo do cobertor vendo coisa nenhuma na TV, noites em que me escondia no teu peito por causa do meu medo de trovões, noites em que sentia tua mão amparando todos os meus medos. Aquelas tardes ociosas de domingo que você me contava no chão da sala, todos os seus sonhos de menino... me contava das suas decepções, dos seus medos e lá fora começava uma chuva fina, me aninhava no teu colo, te fazia meu e me descobria cada vez mais sua. E tudo fazia parte da vida que a gente resolveu partilhar. E existia os dias ruins. Dias em que não insistia pra você vir pra cama ao invés de ver o futebol, que você não corria pro banho depois que já estava lá... Dias que sentia ainda mais vontade de tua boca morna com hálito de café, mas me agarrava no silêncio. Tudo ocasionado por ciúmes, implicâncias, coisas sem fundamento. Mas era só te olhar, olhar teu cabelo bagunçado, que meu coração tecia uma prece silenciosa e pedia por você. Pegava tua atenção e quando nossos olhos se cruzam o orgulho pegava a porta de saída e sumia.

Nosso canto tem a cara da gente, ai e aqui. Agora, só falta você!

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